Ponte aérea São Paulo-Cracóvia...

Queridíssimos e ávidos leitores desse pouco atualizado blog, tenho uma notícia um tanto quanto inesperada para lhes dar. Ontem, eu e meus colegas brasileiros, portugas e polacos fomos gentilmente notificados que voltaremos para o Brasil mais cedo. Sim, estou desempregado!hehe

Vamos aos detalhes. Para os que não sabem, trabalho (trabalhava!rsrs) aqui em um centro compartilhado da Shell mundial, em que várias áreas de diversos países operam para seus mercados locais visando economias de escala. O Brasil não ficou fora dessa política global e, após muitas discussões internas e muito dinheiro investido, foi realizada uma migração da área financeira para Cracóvia. Como podem imaginar, mandar 30 pessoas do Brasil para o outro lado do mundo, transferir funções de funcionários de 15 anos de Shell, passar a ter comunicações internas em inglês em alguns casos, fazer treinamentos por telefone, contratar gente disposta a morar em um país com 9 meses de inverno, entre muitas outras adversidades, não foi tarefa fácil. Mas foi feito.

O impacto não foi pequeno. No Brasil, funcionários com mais de 15 anos de Shell foram comunicados que teriam seus empregos migrados para a Polônia e seriam realizadas por pessoas novas (vulgo, "vocês foram demitidos"). Mais do que isso, essas pessoas deveriam ficar mais 3 meses treinando os novatos (no caso, eu). Com certeza não foi tarefa fácil.

Eis que entre trancos e barrancos, a migração ocorreu. Em Maio finalmente passamos a operar sozinhos aqui e as operações no Brasil foram desligadas parcialmente. Comemoramos! O treinamento valeu a pena e conseguimos tocar o barco por conta própria!Uhuuu

Eis que vem o fantasma.

Já se sabia que era negociada uma Joint Venture (JV) entre Cosan e Shell, mas não se sabia o impacto exato disso. Agora sabemos. O fato é que a Cosan (maior empresa de etanol do Brasil e uma das maiores do mundo) planejava esse acordo com a Shell Brasil para obter ganhos de escala, principalmente na distribuição de gasolina e alcool e na produção de biocombustíveis (maiores detalhes é só colocar no google!). A questão então passou a ser: quem assumirá a área financeira na JV? O raciocínio era simples. Dado que de certa forma as empresas estava se juntando, o habitual seria algumas áreas ficarem sob o comando de diretores da Shell e outras áreas sob diretores da Cosan. Se o diretor financeiro fosse alguém da Shell, não iria contra a uma política global da Shell e nossa migração estaria a salvo. Se fosse alguém da Cosan, provavelmente seria muito estranho para uma empresa brasileira aceitar essa estratégia de "outsourcing". O fim da história vocês já sabem.

Na verdade não ficamos sabendo da definição de quem é diretor fianceiro, mas fomos comunicados que nossa migração seria "re-migrada" para São Paulo. Entendeu? Migrou e desmigrou. Agora nos resta 3 meses de aviso prévio e algumas políticas padrão de "conforto" pós- demissão. Para esse humilde paulista que vos escreve, a mudança não foi das maiores, afinal, meus planos eram de fato voltar para o Brasil em Janeiro. Fico triste pelos colegas que tinham planos mais de longo prazo. Mas, usando um ditado bem batido: a males que vem para o bem. No final, todo mundo vai se virar e as coisas vão dar certo.

Agora, obviamente, a intensidade de viagens e baladas aumetará (se é que é possível), já que o tempo é curto.

Resumo da ópera, estou passando uma atípica (ou não) experiência pelo maravilhoso mundo nas multinacionais! O engraçado é a sensação de que mudar operações de uma empresa de um continente para o outro ou mudar algumas dezenas de pessoas de um hemisfério para o outro é tão fácil e rápido como se estivem sido mudadas do Rio de Janeiro pra São Paulo. Talvez eu esteja desinformado e já esteja operando a ponte-aérea São Paulo-Cracóvia...Só pode ser.